Após uma temporada de sucesso, regressamos à música de Otelo e ao seu feitiço, conduzidos por Nuno Carinhas. Há algum tempo que a sua visão de encenador persegue uma dissolução plena da fronteira entre palco e plateia, mas talvez nunca como em Otelo, a sua segunda encenação de Shakespeare depois de Macbeth, ela se revele tão natural, fazendo do edifício do teatro um lugar de ação. Uma vez que, em Otelo, quando a história começa, já se está afinal perto do fim, Nuno Carinhas cavou nela espaço e tempo, e ofereceu-os às personagens, sobretudo a Otelo, Desdémona e Iago (e a nós, que os seguimos) e à beleza das suas palavras. Cúmplices e testemunhas da tragédia doméstica que cedo se desenha, somos lançados numa sucessão de palcos, cada vez mais claustrofóbica, que culmina nesse palco íntimo que é o quarto de dormir. As mortes em direto que aí presenciamos dizem-nos também respeito, a nós, seus espectadores implicados mas impotentes. Peça de múltiplos níveis, duplicidades e reflexos, é também, como frisou T.S. Eliot, sobre o nosso "bovarismo", a forma falsa como às vezes nos encenamos, nos contamos a nós próprios e aos outros. E Nuno Carinhas faz eco desse desconforto de nos vermos assim ao espelho na estridente dissonância final de uma valsa.
De William Shakespeare
Encenação, cenografia e figurinos
Nuno Carinhas
Tradução
Daniel Jonas
Versão cénica
Daniel Jonas, Nuno Carinhas, Sara Barros Leitão
Desenho de luz
Nuno Meira
Desenho de som
Francisco Leal
Assistência de encenação
Sara Barros Leitão
Interpretação
António Durães, Diana Sá, Dinarte Branco, Joana Carvalho, João Cardoso, Jorge Mota, Maria João Pinho, Paulo Freixinho, Pedro Almendra, Pedro Frias
Produção
TNSJ
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